Hoje senti uma inspiração muito grande pra escrever, confesso que será um desabafo.
2009 chegou ao fim, e como passou rápido! Tanta coisa aconteceu, tantas mudanças, alegrias, tristezas...
Pra quem não me conhece, ou me conhece pouco, sou vestibulanda e estou prestando Medicina. Mais especificamente, gostaria de me especializar em Oncologia e pretendo, inclusive, realizar pesquisas nesta área. Claro, não tenho certeza absoluta de nada, nem se conseguirei cursar a faculdade hehehehe, este é apenas o meu plano A.
Acontece que, neste ano que passou, perdi uma prima vítima de câncer, assim como tenho um tio que também passa pelo mesmo sofrimento. Hoje fui, inclusive, visitá-lo no interior de SP, na cidade de Rio Claro. Sem dúvida realizei uma boa ação no último dia do ano. Entrei no quarto, não me recordava da fisionomia dele que é, na verdade, meu tio-avô. A primeira coisa que notei foi o sorriso em seu rosto, e ele disse "Oh minha fia, como você cresceu!" (pra vocês verem que há muito tempo mesmo não nos víamos já que, quem me conhece, sabe que eu não sou nem um pouco alta rs); a última vez que o vi eu tinha 7/8 anos. Tive uma ternura tão grande por aquele velhinho assim que entrei naquele quarto e senti uma necessidade tão grande de ficar ali, segurar sua mão, fazer carinho nele e tentar consolá-lo de alguma maneira... e olha, confesso que antes de entrar no quarto (apenas um visitante por vez) eu até tinha um certo receio por não lembrar direito dele e, talvez, ficar sem assunto. Fui forte.
Meu tio fez uma cirurgia há poucos dias e retirou um tumor de 3 kg do abdômen. Gente, juro, eu custei a acreditar, mas é verdade. Aí a gente se pergunta: "Como isso pôde ter se desenvolvido tanto e ninguém ter percebido?". É tanta coisa que não entra na minha cabeça. Os médicos já nos prepararam pro pior. O que entra em questão é que, meu Deus, como pode haver tanto sofrimento? Eu não consigo me conformar com certas coisas. Será castigo por erros cometidos anteriormente? Será alguma forma de penitência? Uma vez ouvi uma senhora dizer que "Tudo o que aqui [Terra] se faz, aqui se paga". Será?
Dentro do quarto, como eu disse, me mantive forte. Tentei de todas as maneiras fazer com que ele se sentisse melhor, mostrar que apesar de tudo nós estávamos ali e torcíamos, aliás, torcemos muito por ele. Reparei no corte na barriga nele, nos braços roxinhos de tanto soro e perguntei pra enfermeira qual o medicamento que ele estava tomando no momento e o que ele teria de fazer em seguida. Ela disse que iria precisar passar a sonda. Sem dúvida essa foi a pior parte, meu tio virou e disse "Meu Deus, a sonda não! Não tem outro jeito? Dói tanto, taaanto...". É tão triste lembrar disso, mas preciso tentar passar pra vocês o que eu senti e como me sinto agora.
Será que eu consigo seguir essa carreira? Assim que saí do quarto eu desabei, meus olhos já não sustentavam mais a serenidade de antes. É tão difícil! Sei que vou perder muitos pacientes e que é, sim, muito triste ver as pessoas nessa situação. Ao mesmo tempo entro em conflito pensando que, apesar de tudo, quero fazer o que puder pra poder arrancar um sorriso que seja do rosto dessas pessoas. Será que eu sou forte o suficiente?
É por isso que eu desejo muita sáude pra todos em 2010.
É nessas horas que a gente percebe que não é absolutamente nada aqui na Terra.
Temos é de agradecer a Deus por cada dia, e aproveitar a vida como se fosse nosso último dia aqui.
Tanta gente reclamando por coisas tão fúteis e, ao mesmo tempo, tanta gente pedindo apenas por não sentir dor...
Eis a vida, e viver não é fácil!
É isso.
Beijão, Feliz 2010!