As idéias de Julia a estavam assustando. A jovem não tinha mais controle sobre o que acontecia em sua mente. Estava ficando paranóica, mas tinha consciência plena disso. Sabia que seus temores estavam ficando cada vez mais exagerados, no entanto, ao invés de alertar alguém ou pedir ajuda, ela escrevia seus pensamentos em folhas, que não mostrava para ninguém.
Em não mais de uma semana após escrever algo, a menina queimava os papéis. Estes rituais estavam deixando suas roupas com um certo cheiro de fumaça, que levou a mãe da garota a crer que ela estava fumando.
Desconfiada, Margaret resolveu colocar uma câmera no quarto da jovem. Esperou, no dia seguinte, o horário de Júlia ir para a escola e entrou no cômodo. Era sombrio e nefasto. A decoração de menina havia sido substituída por pôsteres de bandas góticas, bem como a aparência, que agora era a de um castelo medieval.
Margaret era uma republicana conservadora e inveterada. Uns poucos cabelos grisalhos denotavam sua seriedade e sua experiência de vida. A mulher andava sempre usando vestidos, geralmente veludo cor-de-vinho. Seu apreço pelos “bons costumes” e todo o tradicionalismo que a cercava ao longo da vida justificam o pequeno delito.
Não enxergava seu ato como transgressão à privacidade de Júlia, mas como uma medida precavida de uma mãe preocupada. Pegou uma furadeira e criou quatro orifícios na parede gelada. Com parafusos e uma chave Philips fixou o objeto eletrônico em uma posição estratégica. Do lugar onde a câmera estava, era possível ter uma vista privilegiada do quarto sem correr o risco de ser percebida pela jovem.
Em seguida buscou um aspirador de pó, que só ligou após ter fechado a porta do dormitório da garota. Sabia que a jovem, ou tampouco o marido, chegariam naquele horário do dia, entretanto não se via confortável correndo qualquer risco. Era muito meticulosa no que fazia.
Deixou o quarto impecável, tirou suas digitais de tudo em que havia tocado e saiu para jogar fora a caixa do eletrônico.
À tarde chegou a filha, que ficou na sala até à noite, quando chegou o marido. Bernardo era um homem de quarenta e tantos anos, chegava em casa com um macacão sujo de graxa. Era um operário. Foi tomar um banho pois naquela noite especial receberiam visitas.
Os convidados eram o casal Bartolomeu e Jatira. Bartolomeu era um homem de estatura média-baixa, um tanto gordo e parcialmente calvo. Jatira era esguia, pescoçuda, mais reta que uma tábua-de-passar e dominada por rugas.
Os quatro adultos, já na meia-idade, conversavam coisas inúteis e chatas enquanto bebiam um chá sem açúcar suficiente e comiam bolachas maisena murchas.
Margaret notou que não via a filha já havia algum tempo. Preocupada com o que a jovem poderia estar fazendo, resolveu ligar a televisão. Apesar das condições da família, a TV havia sido uma “extravagância”, como Bernardo se orgulhava de dizer. Haviam comprado um televisor usado de plasma de 42 polegadas, era a “menina-dos-olhos” daquela residência, para não dizer daquele quarteirão, ou mesmo, de todo o bairro.
A mãe, inquieta, pegou o controle remoto, que ainda não sabia operar com muita prática e foi virando os canais. Após rodar três vezes por todos os canais existentes (e alguns inexistentes) a velha percebeu que estava fazendo alguma coisa errada. Forçou seus neurônios até conseguir se lembrar que deveria clicar em “AV”.
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ahuahuaha ameeeei
ResponderExcluircontinua!
vc gostou xD
ResponderExcluirbrigad's
; - )
logo eu posto a parte 2 e o final =D
mas acho q ninguém vai gostar do final
rsrs
ahahaha, ta ficando bom! mas acho que a melhor parte está por vir, certo? POSTA LOOOOOGO hauhaha
ResponderExcluirbeeijos mon'amour. só falta eu postar aqui, né?