terça-feira, 1 de setembro de 2009

Por uma visão menos reacionária

Semana passada tive uma calorosa discussão com duas amigas sobre cotas em universidades públicas. Não sou a favor de cotas raciais pela mesma razão que todos diriam, e acho que já é até clichê dizer isso, mas raça (odeio esse termo) não afeta conhecimento. Porém sou completamente a favor das cotas sociais, visto que os alunos da rede pública não recebem o apoio e as oportunidades que alguns playboys recebem (me incluo) : fazer o ensino médio em escola particular, depois fazer cursinho, ser sustentado pelo pai, poder estudar horas por dia, ter acesso à informação de qualidade, depois talvez até ganhar um carro se passar na federal... Eu sei, vão dizer que o problema deve ser resolvido na raíz, que a educação no Brasil deve melhorar e as cotas não resolvem nada, que os alunos devem entrar por mérito e etc... Respeito as opiniões de todos, mas, sinceramente, isso pra mim é discurso da classe média. O MÉRITO só se consegue com OPORTUNIDADES IGUAIS. Os alunos não podem esperar a vida inteira por uma melhora no ensino do nosso país. Não sejamos hipócritas, todos sabemos que isso tá bem longe de acontecer.

Enfim, esse assunto ainda vai dar pano pra manga e eu não quero retomá-lo.
Mas quero deixar aqui uma parte de um texto pra que vocês reflitam e, quem sabe, tentem ver as coisas sob outro ângulo...

"O velho adágio não dê o peixe, ensine a pescar - geralmente proferido por alguém que pode escolher no mercado, dentre os peixes, o que mais lhe apraz - soa inteiramente falso e inconsequente, quando se sabe estar lidando com alguém desprovido de acesso ao rio, barco, molinete, rede, ou mesmo arpão, jangada, curral, tendo perdido - algum dia apropriou-se delas? - as elementares técnicas de arrastão. A metáfora da pescaria pode ser útil para pôr em questão as condições - ou a falta delas - para a conquista da autonomia, mas induz à simplificação da questão.
O enfrentamento do problema requer que se ponha em questão, para ficar na metáfora, a construção social da pescaria e o acesso diferencial e desigual ao produto dela. Nem o rio, nem as técnicas de pescaria - tradicionais ou modernas -, nem os peixes são iguais para todos. E é preciso tratar diferentemente os diferentes, segundo o critério de eqüidade (...) O peixe é um dos alimentos mais saudáveis. Mas não basta. Nem só de peixe vive o homem. "
- Ademir Alves da Silva, professor de Política Social da PUC-SP.

(obs.: não sou cotista)

5 comentários:

  1. Sabe, Nathy. Eu pensei muito, muito depois daquela nossa discussão de quase uma hora naquele restaurante ahuahahua. Continuo defendendo a idéia de que o problema deve, sim, ser resolvido pela raíz, como já conversamos. Por outro lado, entendo o quão impossível e distante esta realidade de um Brasil com educação para TODOS, como é de direito, está distante. Eu entendo todos os seus argumentos. Concordo plenamente que, enquanto a realidade do nosso país não muda, para que todos tenham acesso às mesmas informações, com a mesma qualidade, as cotas sociais são, sim, uma forma de ajudar quem não tem "vara, molinete e barco" pra pescar. Isso, como eu disse, apenas ajuda a camuflar um problema com raízes profundas, que a cada dia se enterram mais e maais na terra. É triste ver um país que se diz "emergente" economicamente, mas completamente precário socialmente. Cotas não deveriam existir porque não deveria existir desigualdade. Enquanto ganância, desigualdade, dentre outros, continuarem a fazer parte do nosso cotidiano, nessa sociedade capitalista (infelizmente, acho que o problema não tem mais solução, apesar de procurar sempre algo pra fazer que tudo isso mude), as cotas servem para dar uma chance a mais pra quem não tem condições. Meu "discurso" contra cotas na semana passada não foi um discurso "classe média"; pelo contrário, classe média não se importaria nem um pouco em resolver a questão da desigualdade. Só acho que para se resolver um problema, deve-se "cortar o mal pela raíz". É utopia neste país, eu sei.

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  2. Acho que cota é um mal necessario... é um mal pq qdo se ha cotas o governo assume sua incompetencia perante a edducação falida existente no brasil

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  3. pois é, devia ser cortado pela raiz, mas como eles não vão fazer nada mesmo, uma 'solução provisória' (como a CPMF, se é q vc me entende) as cotas, não racias, mas as socias devem sim existir. fazer oq?

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  4. Legal

    eu perderia mais tempo atacando as cotas raciais e o governo

    xD

    brevemente estarei postando (operador de telemarketing hAUSHAUSHAS) a minha crônica sobre cotas

    beijos para todos

    ^.^

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  5. A verdade aqui é que, diferente do que dizem, as cotas não consistem num "band-aid", pois ele é um paliativo (mesmo que não resolva nada, é um paliativo pois visa atenuar) e os objetivos das cotas moram longe: elas visam empurrar o problema com a barriga, tendo em vista que resovê-lo seria muito arriscado...

    Vou desenvolver melhor inhas ideias numa crônica que será postada aqui em momento oportuno

    haushusahushasuhasuahushaushaushaushaus

    sem mais,

    Fesão

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