terça-feira, 4 de maio de 2010

Divagações

Há tanto tempo não escrevo aqui. Queria ter o dom de escrever textos "à la Fernando", sarcásticos, engraçados, criativos... Parece que cabe a mim a parte mais chata, os textos mais reflexivos e sei lá, melosos. Fazer o que? A inspiração me surge quando tenho devaneios existenciais rs.
"Viver é deixar viver", diz a letra de uma música do Barão Vermelho. Mas afinal, o que é a vida? Quem determina o que será de nós, somos os responsáveis por tudo o que acontece, ou tudo está determinado por Deus desde o momento em que nascemos?
Ao entrar no laboratório de anatomia, há um quadro com uma meditação aos cadáveres que utilizamos para estudar:

"Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que esse corpo nasceu do amor de duas almas, cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado, e sentiu e esperou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima siquer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome, só Deus o sabe, mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente".

Um outro quadro, escrito por uma antiga turma de medicina, diz, resumidamente:

"Pra que nascer, se temos de amar e pra que morrer se amamos?"

Vivo me questionando o porquê de tantas coisas. Ultimamente coisas têm me acontecido e, a cada dia que passa, tenho mais certeza de que nada é por acaso. Acredito que pra tudo na vida há um propósito. Não sei se já nascemos com alguma missão, se é que isso existe, mas acredito que cada um de nós nasce com algo insubstituível, único e que deve ser compartilhado com as outras pessoas, de forma a sempre acrescentar algo.
Ao olhar pras peças do laboratório de anatomia e estudá-las, sempre me vem aquele pensamento: "meu Deus, isso foi uma pessoa. Teve sonhos, chorou, sorriu, amou, e agora tá aqui, conservada com formol, fedendo e completamente sem vida". Ao olhar um cadáver, por mais que a carne esteja ali, não há aquela energia que sentimos ao tocar uma pessoa em vida. É como se nós não fossemos apenas ossos, músculos, sangue e vísceras; há um algo a mais, uma energia diferente em cada pessoa que a faz ser diferente e especial, ter sentimentos e angústias, amar. Talvez essa seja a definição de alma, e é isso que difere um ser humano de outro. Afinal, quando morremos, o destino de todos é o mesmo: apodrecer, e não há como fugir disso. Cabe a nós fazermos com que a outra partezinha siga um rumo diferente, e isso depende do que fazemos em vida, de como aproveitamos as oportunidades e, principalmente, as pessoas que surgem no nosso caminho.
Viver não é apenas ter o coração batendo, mas senti-lo palpitar mais rápido quando tocamos as pessoas que amamos, ou perdermos o ar ao pensar nelas; é sentir um arrepio na pele com um simples toque ou lembrança, ter saudades. Viver é dar a oportunidade a todas as coisas, aproveitar as boas e com as ruins sempre tirar um aprendizado, uma lição.

2 comentários:

  1. Achei sua conclusão excelente Jacque

    Genial, mesmo

    e brigado pela partezinha que me toca, hahaehahe

    bjão ; D

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